quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Motes e Glosas II




Motes e Glosas II
1
Nas divagações celestes
Que faço encontro resquícios
De fenomênicos indícios
De arcanos incontestes.
Pois que a noite, em suas vestes
Esconde segredos tais
Quais árvores nos matagais
Que ocultam pássaros na fronde.
A tela da noite esconde
Mistérios transcendentais.
2
A noite, em seu traje fino,
Mascara algo enigmático.
Não responde ao senso prático
Nem revela o seu destino,
Como um rapaz libertino
Ocultando algo dos pais,
Que indagam cada vez mais:
- Filho, você foi aonde?
A tela da noite esconde
Mistérios transcendentais.
3
Tenho buscado saber
Da noite quais os mistérios
Mediante estudos sérios
Que são pra mim um lazer.
E, às vezes, eu penso haver
Entre eles relações tais
Co'os mistérios humanais
Do Drácula, que foi um conde.
A tela da noite esconde
Mistérios transcendentais.
4
Jamais pude desvendar
Da noite misteriosa
Sua razão nebulosa
de tudo vir me ocultar.
Já cansei de perguntar
A ela, em meus madrigais,
Quais seus segredos astrais,
Mas ela não me responde.
A tela da noite esconde
Mistérios transcendentais.
5
Eis que será meu castigo
Vagar sem merecimento
Buscando o desvendamento
Desse arcano que investigo.
Que desvendar não consigo
Os mistérios siderais
Que há nas trevas celestiais,
Embora que muito as sonde.
A tela da noite esconde
Mistérios transcendentais.
6
Se a noite oferta momentos
De decifrações de arcanos,
Mas só acho desenganos,
Desditas e desalentos...
Pra ver seus desvendamentos
Rondo as trevas mais e mais:
Tudo impede ver os tais,
Mas nada impede que as sonde.
A tela da noite esconde
Mistérios transcendentais.
7
Madrugo e sinto o lirismo
Da noite, “onde” a paz se enfurna,
Que a contemplação noturna
Regula o meu organismo.
Nesse meu sonambulismo
Desperto para a visão
Onde é real a' ilusão
E' ilusório o despertar.
Somente a chama lunar
Aquece o meu coração.
8
Trato com cavalheirismo
A enluarada chama,
Visto ser a lua a dama,
Alvo do meu romantismo.
Todo o meu condoreirismo
Coloco à disposição
Do luar, que, na' amplidão
Rejubila sem parar.
Somente a chama lunar
Aquece o meu coração.
9
À noite há provocações
De lindas moças enfim
Que, por quererem a mim,
Cercam-me de tentações.
Suas insinuações
Dão à sensual paixão
Autonomia e razão
Para vir-me provocar.
Somente a chama lunar
Aquece o meu coração.
10
O arrebol, depois que atua,
Se vai e, a poucos metros,
Já se divisam os cetros
Dos raios da luz da lua.
A cintilância acentua
Seus halos na' imensidão,
Que a sideral vastidão
Insiste em iluminar.
Somente a chama lunar
Aquece o meu coração.
11
Quando, já de madrugada,
A urbe sente um frisson,
Do silêncio ouve-se o som
Ressoando na calada.
Continuo a caminhada
Em busca de insuflação,
E, só acho inspiração,
Perto do dia raiar.
Somente a chama lunar
Aquece o meu coração.
12
Mas, antes que a noite acabe,
Sorvo dela todo o sumo,
Porque dormir não costumo
Sem isso e disso ela sabe.
E, já que o meu eu não cabe
Dentro da ensolação,
Ao proteger a visão,
Durmo pra à noite acordar.
Somente a chama lunar
Aquece o meu coração.
13
Vejo que a noite aproxima
Meu ser dos vívidos encantos
E me faz brindar aos tantos
Prazeres co'os quais me anima.
A noite sã legitima
Meus risos de emoção
E me traz a sensação
Da santa paz infinita.
Nas orlas da noite habita
O sopro da criação.
14
É à noite que eu componho
Poemas fenomenais
Nos quais encontro os sinais
Que se acham somente em sonho.
Só permaneço risonho
Vendo da lua o clarão
Repleto da' inspiração
Que torna a vida bendita.
Nas orlas da noite habita
O sopro da criação.
15
Contemplo a lua formosa
Que brilha sobre oceanos,
Iluminando os arcanos
E os mitos co'os quais se entrosa.
Pra mim é maravilhosa
A noite cheia da' unção
Na qual há insuflação,
Mistério e paz inaudita.
Nas orlas da noite habita
O sopro da criação.
16
Gosto de sair de casa
Quando a madrugada chega,
Pois que ela me aconchega
E, em ponto algum, se defasa,
Me acalma, alenta e extravasa
Essências de uma emoção
Que preenche o coração
De amor que no' íntimo palpita.
Nas orlas da noite habita
O sopro da criação.
17
Clareia o dia e eu não vejo.
Durmo em período diurno,
Só acordando em noturno
Período, o qual mais almejo.
Sorvo da noite o desejo
Imerso em motivação,
Pois só acho animação
Nessa musa que me excita.
Nas orlas da noite habita
O sopro da criação.
18
Há na noite alguma essência
Que, embora ninguém descreva,
Faz com que'eu a vida deva
A ela em toda a' existência.
Não existe impaciência,
Dor nem insatisfação
Nas horas frias, que são
Da noite a' extensão prescrita.
Nas orlas da noite habita
O sopro da criação.
19
Prezo (´) muito a madrugada
Porque é nela que eu me inspiro
E da mesma é que eu retiro
A' estrofe a ser declamada,
A música a ser decantada
E a nuance mais bela
Que em negra pintura estrela (´)
Como em dramatização.
Meu lar é a' escuridão
Que a madrugada revela.
20
Há na obscuridade
Que há na calada noturna
Um enigma que se enfurna
Nos amplos vãos da cidade.
Que é visto que a' escuridade
Aos assombros se atrela
Delineando uma tela
De vampírica inspiração.
Meu lar é a' escuridão
Que a madrugada revela.

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