sexta-feira, 19 de junho de 2015

Um cordé amundiçado - Muié de matuto impresta. / Mas adispois dá o trôco



Um cordé amundiçado

Muié de matuto impresta.
Mas adispois dá o trôco

1
Manezim de Zé peitica
Deu a gota da muzenga
E arrumô uma arenga
Pra lá do sítio Oiticica
Cum Rita de Zé de Quica,
Muié de um friviôco
Que dêxa quaiqué um lôco,
Do caba mijá os cuêro (qüêro),
Correr no mei dos coquêro
E num findá o sufoco.
2
Tudo isso só foi pru mode
Dele pagá a valia
Daquilo que ele devia
Cum a quá comprô um bode…
Espia só como pode!...
O caba cheim dos trôco,
Se metê nesse sufoco
Co’a cara mais dislavada...
Sem precupá cum nada,
Fazê papé de ovo-choco.
3
O bode virô buchada
E o dinhêro iscafedeu…
Num sei o que aconticeu.
Ninguém me contô de nada.
Só vi foi uma zuada
Dos capeta dos oiti.
Inté môco deu pra’uvi.
Parece que era uma festa
Daquelas que disembesta
Sem se sabê pr’onde í.
4
Adispois bateu na porta
Sinhá Rita cum porrete,
Pra vê se dava um cacete
No caba da venta torta,
Que cum nada se importa,
Mêrmo cum conta a pagá…
Disse a esposa: - Num tá.
Nem vai chegá muito cedo.
Tava murrida de medo
De Rita se inroletá.
5
Quando o dia amãicêu,
Tava Rita lá de novo.
E viu se ajuntá o povo.
Aí, mais se infuriceu.
Intão ôtra vez bateu
Na porta de manezim,
Que abriu e disse assim:
  • Num vô li pagá nadinha…
Pode chamá de murrinha,
Que eu me agaranto por mim!
6
  • Cale a boca caba ruim.
Deixe de cunvéssa mole.
Cabeça de iscapole,
Me pague o que deve a mim!
Quero é tintim por tintim,
Inté o último tustão.
Ô você paga, sinão
Vô li butá na cadêa,
Li dá um cambôi de pêa
De li’istatalá no chão!
7
Manezim ficô surrino
Mas ela disse: - Num surra!
Caba da cara de burra!
Você é vê um minino
Dos maluvido e malino
Que faz nós perdê a bola.
Hoje você se atola…
E vai tê que me pagá,
Seu galego sarará,
Ô vai acabá na sola!
8
Bateu-le a porta na cara.
Fingiu que num tava uvino.
Inda cuntinuô rino
(pois caba ruim nunca para)...
Rita ficô uma arara,
Fumaçano de raivosa.
Foi im casa. Chamô Rosa.
Mandô trazê o facão,
Foice, punhá, três oitão
E se aprontô furiosa.
9
Foi na casa do danado,
Tano armada inté os dente.
Paricia uma tenente.
Perto, era vê um sordado!
Já o Manezim, coitado,
Ia infrentá a pantera.
Cum medo daquela fera,
Mijava inté a caçola...
Deu de garra da pistola
E ficô à sua ispera.
10
A puliça sôbe logo
Do furdunço que ia havê.
Vei antes de acunticê.
E esse fato eu catalogo.
E inté me interrogo
No que fébe é que vai dá…
Ela vei de lá pra cá.
Atravessô o riacho.
Se ele fô um caba macho,
Hoje vai tê que güentá!
11
Disse: - O dinhêro, quedê?
  • Tá aqui meu pagamento.
Deu-le, no mêrmo momento,
Um tabefe pra valê.
Ela disse: - Tu rai vê
O que é que eu vô te aprontá…
Meteu a mão no punhá
E pegô nas súar beca.
Quage ele molha a cueca
De tanto se amedrontá.
12
A puliça inté tentô
Sepá os dois de canto.
Apanhô do mêrmo tanto
E a briga num acabô.
Rita num se acabrunhô,
Foi quá Maria Bunita…
Intão Manezim viu Rita
E tremeu inté chorá.
Adispois quis se afastá,
Temeno aquela “bendita”.
13
Chute, murro e cabeçada,
Tapa, bufete, impurrão,
Tiro inté de três oitão,
Tabefe e tamburetada…
E o povo na calçada
Oiano aquele furdunço,
Que nem briga de jagunço
No tempo de Lampião.
Um disse: - Bagunce não!
O ôto disse: - Eu baguuunço!
14
Rita chutô-le nos óvo
Que chega fartô-le o á.
Disse ele: - Eu vô ti pegá,
Pruque isso eu num aprovo!...
Disse o “delega”: - Eu comprovo
Que, daqui pra de mais tarde,
Tudo o que fô de covarde
Vai saí do mei da briga…
Mas num findô-se a intriga
E o povo entrô no alarde.
15
O povo se intramelô
No mei daquela mundiça.
Entrô inté a puliça,
Mas nada solucionô…
Intão a guerra acabô
Cum povo todo cansado,
Os puliciá quebrado
E a rua do mêrmo jeito.
E, inté mêrmo o prefeito
Saiu de lá iscornado.
16
De tudo, teve um defeito,
Os principá da questão
Se intendêro e dero “ar” mão
E o povo ficô no “pleito”.
Quem num brigava, achou jeito
De fazer pancadaria.
Que inté no finá do dia
Tava uma situação
Que nem o “Diabo do Cão”
Eu penso que agüentaria.
17
O pagamento foi esse:
Uma junta de cabrita,
Uma fazenda de chita…
E findô-se o interesse…
Mas me diz, de um diabo desse,
Que tróço é que dá na vida?
A luta foi divirtida.
Mas, no finá, tudo acaba
E resta ainda uma aba
De briga má resovida

……………….

Autores: Poetas
Roberto Felipe Melo Leite do Amaral

João Carlos Nogueira Borges