Cordel - Assombro de Noite Escura
(Felipe Amaral e João Carlos Borges)
1
Eu saí de
madrugada,
Mas foi co'um
medo tremendo.
Ia à casa de um
amigo,
Aí vi algo
correndo.
Era uma coisa
bizarra
Que até hoje eu
não entendo.
2
Com medo, vivo
sofrendo
Depois que vi
tal fantasma.
Tomo tanto do
remédio
Devido a sofrer
de asma
E quando lembro
a "marmota"
Até a minha alma
pasma.
3
A imagem do
fantasma
Regelou meu
coração.
Não sai mais da
minha mente
Aquela imagem do
Cão.
Penso nisso todo
dia
E findo em
grande aflição.
4
Chega bate o
coração
Mais forte
devido ao medo.
Pra Deus já fiz
uma prece
Pra que Ele
finde esse enredo.
Até perdi o
consolo
Que havia em meu
sono quedo.
5
Fiquei no
horrendo degredo
Do espanto
transcendental.
Aprisionado nas
grades
Da figura
fantasmal.
E ao Senhor
agora eu clamo
Pra por no medo
um final.
6
Vou à praça e
sinto o mal
Aproximar-se de
mim.
Dá logo agito e
o frisson
Estimula a
"coisa ruim"
E o tremor
"pega aumentar"
Pra quase não
ter mais fim.
7
O que há de ser,
pois, de mim
Neste universo medonho?
Deito pra dormir
de noite,
Mas só co'o
danado eu sonho
E, quando acordo
assustado,
Grito e não me
recomponho.
8
No meu
travesseiro eu ponho
Um amuleto da
sorte
Pra espantar a
"mutreta"
Que quer me
levar à morte.
Temo, mas, no
fim, eu creio,
Porque a fé é
meu suporte.
9
Mas quando eu
tomar transporte
Pra o outro lado
de lá,
Eu vou ver se
bolo um jeito
De achar onde o
vulto está
Pra lutar de
igual pra igual
E ele não vai
dar um chá.
10
Pra onde quer
que hoje vá,
O miserável me
segue.
Se corro, ele
corre atrás
E eu, cansado,
fico entregue.
Se luto, ele
vence a luta
E eu apanho
feito um jegue.
11
Não há quem
prenda ou quem pegue
Esse fantasma
funesto.
Mas, quando eu
morrer, eu vou
Deixar um taco
de resto
Depois que eu
der-lhe uma pisa,
Que
"malassombro" eu detesto.
12
Enquanto vivo,
eu protesto,
Mas não vejo
findo o assombro.
Minha alma está
abatida.
Só restou dela o
escombro.
E ainda sinto
uma mão
De vulto em cima
do ombro.
13
Diante do susto
até "lombro"
E chego a mijar
na cama.
Mas o jeito é
conviver
Com esse enredo
em meu drama.
Mas quando eu
virar fantasma
Esse que se
entusiasma
Ao fazer-me um
grande mal
Vai ver o que é
bom pra tosse
Quando eu dele
tomar posse
No mundo
espiritual.
14
Vou dar-lhe um
"samba de pau"
Que ele vai
ficar pisado.
Se ele não morrer
de novo,
Mas vai ficar
escornado,
Pra deixar de
ser rasteiro,
Espírito ruim e
encrenqueiro
Que com o mal
fica eufórico.
Vou quebrá-lo no
cacete
Mesmo não tendo
porrete
No mundo
fantasmagórico.
Fim.