sexta-feira, 6 de março de 2015

A caveira mortuária / Na escuridão rasteja.


A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
(Glosas: Felipe Amaral e João Carlos Nogueira Borges)

1
Ao sair da catacumba,
Ela gargalha e e dá gritos,
Deixando os seres aflitos
Que rodeiam sua tumba.
Sua voz rouca retumba.
E, por onde quer que'esteja,
Ela assombra quem corteja
Sua vala funerária.
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
2
Ao rondar os cemitérios,
Ela procura encontrar 
Algo para saciar
Apetites deletérios
De sangue, em meio aos funéreos
Destroços vis que fareja.
Funga, murmura e esbraveja,
Colérica e solitária.
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
3
Eu, a fim de capturar
Aquele "monte de ossos",
Esquadrinhei os destroços
Que a mesma tinha por lar.
Corri pra todo lugar
Atrás do que a alma almeja,
Mas, ante infinda "peleja",
Não achei nada na área...
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
4
Fui em busca uma vez mais,
Não mensurando os esforços.
Sem o auxílio de reforços,
Adentrei os sepulcrais
Antros sujos e abissais
Que margeavam a'igreja
E, ao fitar a malfazeja
Fera, deu-me uma urticária...
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
5
Depois de extremo prurido,
Eu comecei a correr.
Tinha medo de morrer,
Devido ao acontecido...
Foi quando me vi detido,
Rubro qual uma cereja,
Fraco, "entregue de bandeja"
Àquela besta ordinária.
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
6
Lutei ainda, tentando
Escapar por minha vida,
Porém não achei saída
Ante aquele mal nefando...
E o monstrengo formidando,
Sem a graça benfazeja,
Sorria, frente à igreja,
Por achar a cena hilária...
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.
7
Eu, por fim, fui devorado.
E, dentro do ventre horrendo
Da criatura, fui sendo
Digerido e processado.
Agora estou confinado
Numa esterqueira... Então veja!
O lamaçal me sobeja
Sobre a arcada dentária...
A caveira mortuária
Na escuridão rasteja.