terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Cordel - Assombro de Noite Escura (Felipe Amaral e João Carlos Borges)


Cordel - Assombro de Noite Escura
(Felipe Amaral e João Carlos Borges)
1
Eu saí de madrugada,
Mas foi co'um medo tremendo.
Ia à casa de um amigo,
Aí vi algo correndo.
Era uma coisa bizarra
Que até hoje eu não entendo.
2
Com medo, vivo sofrendo
Depois que vi tal fantasma.
Tomo tanto do remédio
Devido a sofrer de asma
E quando lembro a "marmota"
Até a minha alma pasma.
3
A imagem do fantasma
Regelou meu coração.
Não sai mais da minha mente
Aquela imagem do Cão.
Penso nisso todo dia
E findo em grande aflição.
4
Chega bate o coração
Mais forte devido ao medo.
Pra Deus já fiz uma prece
Pra que Ele finde esse enredo.
Até perdi o consolo
Que havia em meu sono quedo.
5
Fiquei no horrendo degredo
Do espanto transcendental.
Aprisionado nas grades
Da figura fantasmal.
E ao Senhor agora eu clamo
Pra por no medo um final.
6
Vou à praça e sinto o mal
Aproximar-se de mim.
Dá logo agito e o frisson
Estimula a "coisa ruim"
E o tremor "pega aumentar"
Pra quase não ter mais fim.
7
O que há de ser, pois, de mim
Neste universo medonho?
Deito pra dormir de noite,
Mas só co'o danado eu sonho
E, quando acordo assustado,
Grito e não me recomponho.
8
No meu travesseiro eu ponho
Um amuleto da sorte
Pra espantar a "mutreta"
Que quer me levar à morte.
Temo, mas, no fim, eu creio,
Porque a fé é meu suporte.
9
Mas quando eu tomar transporte
Pra o outro lado de lá,
Eu vou ver se bolo um jeito
De achar onde o vulto está
Pra lutar de igual pra igual
E ele não vai dar um chá.
10
Pra onde quer que hoje vá,
O miserável me segue.
Se corro, ele corre atrás
E eu, cansado, fico entregue.
Se luto, ele vence a luta
E eu apanho feito um jegue.
11
Não há quem prenda ou quem pegue
Esse fantasma funesto.
Mas, quando eu morrer, eu vou
Deixar um taco de resto
Depois que eu der-lhe uma pisa,
Que "malassombro" eu detesto.
12
Enquanto vivo, eu protesto,
Mas não vejo findo o assombro.
Minha alma está abatida.
Só restou dela o escombro.
E ainda sinto uma mão
De vulto em cima do ombro.
13
Diante do susto até "lombro"
E chego a mijar na cama.
Mas o jeito é conviver
Com esse enredo em meu drama.
Mas quando eu virar fantasma
Esse que se entusiasma
Ao fazer-me um grande mal
Vai ver o que é bom pra tosse
Quando eu dele tomar posse
No mundo espiritual.
14
Vou dar-lhe um "samba de pau"
Que ele vai ficar pisado.
Se ele não morrer de novo,
Mas vai ficar escornado,
Pra deixar de ser rasteiro,
Espírito ruim e encrenqueiro
Que com o mal fica eufórico.
Vou quebrá-lo no cacete
Mesmo não tendo porrete
No mundo fantasmagórico.

Fim.



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